24/01/2015

O Juramento - Capítulo Final

Despertei.


Estava no quarto. Me trouxeram para cá. Varri o cômodo com os olhos, procurando alguém. Estava sozinha. Mas agora percebia qualquer detalhe. Desde a migalha entre os pelos do tapete, o floco de neve que pairava do lado de fora da janela, o pingo de aguá que escorria da taça, até uma palavra do livro sobre a escrivaninha. Tudo tinha se ampliado. Conseguia ouvir vozes que estavam a metros de distância. Sentei na cama. Nada de dor. Estava bem. Muito bem. Me sentia forte e revigorada. Passei a língua nos lábios, estavam secos. Tinha uma garrafa com aguá na escrivaninha. Fui até lá e peguei a taça, que se estourou quando a envolvi com a mão. Tinha que aprender a controlar minha força. Não era mais a menina vazia e insegura. Agora, me sentia poderosa e confiante. Nada me atingiria. 
Peguei outra, desta vez com mais cuidado, e enchi de aguá. Bebi tudo. Mas não era disso que eu precisava. Continuava com sede. Muita sede. Isso estava me enfraquecendo. Ouvi passos no corredor. Mas sabia que estavam muito longe ainda. Depois de um tempo, bateram na porta. Fui até ela. Me impressionei com a velocidade que consegui alcançá-la. Apostaria no máximo um segundo. Toquei na maçaneta, e quando a soltei vi que ficou a marca dos meus dedos. Abri a porta e Harry entrou no quarto.
- Como está se sentindo ? - Perguntou, sorrindo.
- Nunca me senti tão bem. - E sorri. - Mas estou com sede. Já bebi água, mas não passou.
Ele me olhou e parecia que me intendia.
- Tenho uma coisinha para você. 
Ele saiu do quarto e quando voltou, trouxe uma mulher. Uma mulher humana. 
Me abalei. Ouvi o coração dela bater. Senti ao cheiro de sangue. Não conseguia parar de olhar para sua veia. Eu queria. Precisava desesperadamente mordê-la. Tentava me controlar. Harry segurou minha mão. Percebi que estava andando na direção dela e coma mão esticada para pegá-la. Ele me tirou do transe.
- Sente-se. - Pediu.
Eu me sentei na cama e ele conduziu a mulher para fazer o mesmo.
Ele se sentou atrás dela.
- Compele ela. - Ele disse.
- Como eu faço isso ?
- Só olhe nos olhos e tenha firmeza no que diz.
Me aproximei da mulher, e ele recuou. Olhei nos olhos dela e a compeli, mandando-a ficar em silêncio e não ter medo.
- Agora, é só me observar. - Harry disse.
Ele afastou os cabelos do pescoço dela, e a mordeu. Deixando escorrer um fio de sangue pela clavícula. O cheiro me inundou. Veio até mim como uma bomba. Estava difícil me segurar. Podia não ver, mas tinha certeza de que meus olhos estavam vermelhos. 
Harry parou e olhou para mim. Não consegui esconder um sorriso. Ele pegou minha mão e me puxou para mais perto. Mordeu de novo. Joguei os cabelos da mulher para trás e senti as presas se revelarem. Infinquei as presas na veia dela. Harry de um lado e eu do outro. O sangue era ótimo. Me dominava. Sentia tudo em mim se fortalecer e intensificar enquanto ele descia pela minha garganta. O sangue me abatia. Era como uma droga. A melhor coisa que provei na vida. Parei e peguei a mão dela, infincando minhas presas em seu pulso. Sentindo o sangue me inundar. Satisfeita, parei. Harry parou comigo, e sorrimos um para o outro. Ele chegou mais perto e limpou o sangue da minha boca. Olhou para a mulher, que estava caída no colchão.
- Cure ela.
Me aproximei da mulher. Mordi meu pulso, e deixei o sangue escorrer pela boca dela. Em instantes, ela abriu os olhos e tossiu. As feridas dela começaram a cicatrizar. Ele a compeliu a esquecer de tudo o que aconteceu e ir embora. Assim que ela saiu, ele me beijou. Um beijo selvagem e intenso. Mordi o lábio inferior dele, e sorri quando saiu um poco de sangue. Ele me deitou no colchão e passou a língua nos lábios, limpando. Sorri e o beijei novamente.
- Você foi muito bem. - Disse, beijando meu maxilar. - Nem gritou.
- Sou mais forte do que pareço.
Ele se apoiou nos cotovelos e ficou me observando.
- Sabia que é mais forte do que eu ?
- Mas você é mais velho.
Pelo que me explicara quanto mais velho o vampiro for, mais forte ele é.
- O puro sangue corre em suas veias. Sua família é composta somente por vampiros há séculos. Com isso, você se torna mais forte.
Nos girei rapidamente, ficando por cima e observando-o.
- Chegou a hora. - Ele ficou com uma expressão séria.
Eu me sentia bem. Agora, me tornara uma melhor versão de mim. Mas quando ele dissera que chegou a hora, um sentimento arrebatador me dominou. Vingança. 
- Finalmente. - Disse, sorrindo perversamente.

Saímos pela floresta, entre as árvores.

Estávamos em pelo menos cem vampiros. Entre os que tinham algo a tratar com os Renegados, os que lutavam, e alguns que Harry convocou, entre eles Alec. Todos usávamos túnicas pretas, com o capuz. Demonstrando que éramos mais poderosos, sombrios e perigosos. Cada um carregava suas armas. Eu levava duas armas com balas de madeira, uma em cada lado do cinto; duas facas, uma em cada bota; três estacas, que ficavam presas no cinto; um soco inglês na mão esquerda; um tipo de chicote prateado com três metros de comprimento, que tinha pontas de lanças em toda a sua extensão; e uma lança. 
Quando todos pisavam, um estrondo ecoava. A floresta estava quieta, como se soubesse que a guerra se aproximava. Na linha de frente estava eu, Harry e Alec.
A cada passo, minha sede de vingança aumentada. Todo choro. Toda lágrima. Toda dor. Tudo fora culpa de Matthew. Mentiras, ameaças, mortes, tudo feito por ele. Agora, chegara a hora da vingança. Faria isso por mim, Harry, e todos que ele matou.
Chegamos ao local: o centro da floresta, coberta por neve.
Eles já estavam lá, esperando por nós. Contei mais de cem vampiros. Todos ansiosos pela batalha. Só nós usávamos túnicas. Na linha de frente estavam Matthew, Mihaela e um homem que não conhecia. Mantemos um certa distância. Eu sabia que meus olhos estavam vermelhos e selvagens, como uma caçadora. Isso só acontece quando estou a ponto de derramar sangue. A túnica podia cobrir meus olhos, mas não escondia meu sorriso.
Matthew deu um passo á frente.
- Você não precisam fazer isso. - Disse em voz alta.
- Não precisamos ? - Perguntei, em tom debochado.
- Venha comigo, princesa. Ninguém se machuca, assim não precisa ter guerra.
Segurei firmemente a lança e a atirei no homem ao lado de Matthew. Atravessou a cabeça dele. 
- Agora precisa. - Disse sorrindo para Matthew.
Abri os braços, indicando para irem ao ataque. Vários vultos pretos passaram correndo por mim, indo em direção aos Renegados.
A guerra começou.
Matthew e Mihaela não partiram para o ataque.
Uma lança partiu em minha direção. Me abaixei para trás e peguei-a no ar, enquanto ela passava por cima da minha cabeça.
- Obrigada. - Disse, a quem quer que tenha jogado.
Olhei em volta, e Alec lutando com um homem. Joguei a lança, que se encravou nas costas do homem.
- Já disse que você ficou ótima de vampira ? - Perguntou Alec, brincando.
Pisquei para ele, que em seguida partiu para cima de outro homem. 
- Cansei de ficar só olhando. - Anunciei. 
Desamarrarei o laço e volta do pescoço e deixei que a túnica caísse na neve.
Tirei uma estaca do cinto e fiquei aguardando uma menina que corria em minha direção.
Quando chegou bem perto, fui para trás dela e encravei a estaca nas costas dela. Ela caiu de joelhos e empurrei-a com o pé. Dois homens correram na minha direção. Tirei as armas do cinto. Deixei três tiros em um, mas o outro conseguiu se desviar. Ele se aproximou muito. Ele se jogou na minha direção, e para evitar que me pegasse, deitei de costas na neve. Acertei um tiro em sua testa quando planava por cima de mim. Uma garota se chocou contra mim. Caímos na neve. Ela rolou até conseguir ficar por cima. Deu-me um soco na boca e colocou uma mão no meu pescoço, enquanto tentava encravar a outra no meu coração. Consegui alcançar a faca que estava na minha bota. Coloquei a mão na nuca dele e puxei seus cabelos para trás, atravessando a faca no pescoço dela. Ela caiu para trás e cravei uma estaca em seu coração. Ouvi um barulho atrás de mim. Me virei e vi um homem correndo na minha direção. Atirei em seu peito. Ele diminuiu a velocidade, mas não parou. Quando chegou perto, chutei seu rosto, fazendo-o cair a metrôs. Pulei, ficando por cima dele. Dei um soco na boca dele. Com uma mão, agarrei o pescoço dele e o apertei até quebrar. Ouvi um rugido de raiva e me virei. Um homem e uma mulher tinham conseguido segurar Alec pelo braço, e estavam prontos para matá-lo. Peguei a faca e corri os metros que nos separavam. Lancei a faca na direção da menina. Infincou na barriga dela. Quando cheguei mais perto, chutei a barriga dela, no local da faca, fazendo-a entrar mais. Ela caiu e ficou agonizando. Ouvi o homem partindo para cima de mim. Me girei rapidamente. Como uma lâmina, minha mão atravessou o pescoço dele, separando-o da cabeça, que caiu nos meus pés. Apontei com o queixo para Alec, uns vampiros que ainda estavam vivos. Ele sorriu de empolgação e saiu correndo. Olhei para Matthew e Mihaela e sorri. Matthew ficou com uma expressão furiosa e Mihaela veio em minha direção. Tirei a faca do corpo da menina que tinha desmaiado. Joguei faca na direção dela, que se desviou e continuou correndo. Caímos juntas na neve. Uma tentando ficar por cima da outra. Ela conseguiu ficar por cima, e apertou as mãos em torno do meu pescoço. Tentava soltar o braço dela, mas não conseguia. Soquei a barria dela. Ela caiu para trás. E fiquei por cima. Quando tentei agarrar seu pescoço, ela me deu um soco. Cambaleei para trás e ela tirou do meu cinto um estaca, infincando-a na minha barriga. Só não foi no coração porque consegui desviar de último momento. Caiu de costas da neve. Ela tirou a estaca e a segurou mais firmemente, pronta para acertar desta vez. Quando ela veio para cima, chutei a barriga dela com os dois pés. Ela caiu vários metros para trás, deixando cair a estaca. Levantei e fui em sua direção. Peguei-a pelos cabelos da nuca, e a levantei. Fiquei por trás. Passei um braço em volta de seu pescoço, imobilizando-a. Encravei a estaca em sua barriga. Ela gritou de dor. Deixei-a cair de costas na neve. Com uma mão, agarrei firmemente o colarinho de sua blusa, e com a outra, agarrei o passante da calça. Joguei-a para cima, alguns metros. Quando ela estava caindo de novo, chutei suas costas com o joelho. Ouvi um barulho de osso quebrando. Ela voou por vários metros de altura. Olhei em volta, e meu olhar cruzou com o de Alec. Ele assentiu, já sabendo o que queria fazer. Abaixou os ombros e fez uma concha com as mãos. Corri em sua direção. Apoiei um pé em suas mãos e o outro pisei no seu ombro, tomando impulso para cima. No ar, o corpo de Mihaela cruzou com o meu. Atravessei minha mão em suas costas. Arranquei seu coração. Cai em pé no chão. E o corpo de Mihaela aos meus pés. Joguei seu coração de lado. 
Me virei rapidamente. Matthew veio para cima de mim. Dei um passo para o lado, chutando o barriga dele. Ele caiu para trás, mas não pareceu se abalar. Voou para cima de mim. Caímos no chão. Ele me agarrou pelo pescoço e me ergueu. Já sentia meus ossos sendo esmagados. Fúria transbordava dos olhos dele. 
- Pena que você vai morrer, igual ao seu príncipe. - Cuspiu as palavras.
- Harry não está morto. - Disse, com dificuldade.
- Sim, foi morto. Morto por mim.
- Você não matou ele.
- Está vendo esse sangue, princesa - e mostrou a camisa branca ensanguentada - É dele. E vou me sujar com o seu agora. Igual me sujei com os dos seus pais.
Meus olhos se arregalaram com a revelação.
- É, princesa, eu matei seus pais na guerra dos renegados. Agora, chegou a sua vez.
Toda a raiva que vinha sentindo, transbordou de mim. Todo o ódio que sentira por ele, me dominou.
- Vamos ver.
Agarrei o cotovelo dele, e impulsionei para cima, fazendo o osso sair para fora. Ele me largou e esbravejou de dor. Me girei rapidamente, chutando-o logo abaixo do queixo. Ele voou. Caiu na neve, mas logo se levantou. Peguei uma faca que estava no chão e corri para cima dele. Ele já estava de pé e com uma espada. Ele desferiu um golpe de lado, tentando me atingir nas costelas. Me abaixei e ele cortou o ar. Segurei a faca ao contrário e desferi um corte profundo em suas duas pernas. Ele caiu de joelhos. Me afastei alguns metros. Tirei o chicote com pontas de lança do cinto. Girei uma vez e o atirei  em Matthew. O chicote se envolveu sem sua garganta. As pontas perfurando-o. Me virei de costas para ele, ficando de joelhos e segurando o cabo do chicote no alto da cabeça. Impulsionei o braço para frente. O chicote bateu na neve, trazendo a cabeça de Matthew. 
 Olhei em volta. Vencemos. Os últimos Renegado que sobraram fugiram. O resto, todos mortos. As últimas pessoas estavam terminando seus serviços. Estava cansada, suja e com medo. Medo do que Matthew dissera. Saí do centro. Recostei-me em uma árvore, tentado desacelerar meu batimento cardíaco e regular minha respiração.
Só um pensamento estava em minha cabeça: Harry.
Ele não podia estar morto. Matthew mentiu. Ele sempre mente. Mas meu coração se apertava com a ideia. Varri a floresta com os olhos. Ele não estava lá. Só os corpos mortos, em cima da neve suja de sangue.
Matthew morto. A guerra acabada. 
Ouvi passos. O farfalhar de passos na neve. Firmei minha mão no gatilho da arma, pronta para atacar. Olhei de soslaio atrás da árvore. Vi uma silhueta escura varrendo o chão com os olhos, procurando algo. Quando não atendia suas expectativas, chutava-o e xingava.
Eu reconheceria aquela silhueta em qualquer lugar. Harry. Suspirei. O alívio tomando conta de mim.
Ele congelou no lugar. Provavelmente ouviu. Ergueu a cabeça de repente. Ficou imóvel, esperando ouvir de novo.
Saí de trás da árvore, e seus olhos encontraram os meus. 
Corri freneticamente em sua direção. Pulei em seu colo e o envolvi com as pernas. Ele murmurou agradecimentos em meu ouvido e suas mãos tremiam em minhas costas. Soltei minhas pernas e olhei em seus olhos. Estavam vermelhos, indicando que tinha chorado. E tinha uma mistura de alívio e conforto.
Beijei-o desesperadamente, com intensidade. Senti quando ele estremeceu de prazer.
- Tive tanto medo. Tando medo de perder você. - Declarei, freneticamente. - Matthew me disse que tinha te matado, vi o sangue. E não te achei depois.
Ele segurou meus rosto com as duas mãos.
- Eu fiquei dando apoio á você durante todo o tempo. Matava aqueles que partiam para cima de você, enquanto estava lutando. No final, alguns Renegados foram para a fora da floresta, tive que ir atrás deles. Estavam planejando a sua morte, enquanto estava ocupada. Também lutei com Matthew. Ele me disse que tinha te matado. Não acreditei. Ele queria nos desestabilizar, para ter uma vantagem na luta. Infelizmente escapou e foi procurar você - Ele suspirou, cheio de alívio - Acabou. Estou bem aqui. - E me beijou.
Eu e Harry . Juntos. Para sempre. Agora, só um sentimento me dominava. Amor.
Ele pegou minha mão.

- Vamos. - Anunciou. Seus olhos ardendo de desejo.
Deixamos tudo para trás. Indo para onde o destino nos levasse. Não havia planos melhores que esse.
O sol aquecia nossas costas, à medida que partíamos.


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